Por Fellype Borges e Hary Kalapothakis Gissoni
Estudos anteriores já mostraram tal interdependência,
mas sempre utilizando pequenas amostras. O referido estudo utilizou uma amostra
de 449 indivíduos com casos de depressão e/ou transtorno de ansiedade
diagnosticados em acordo com o DSM-IV e um grupo controle de 169 indivíduos. Os
participantes selecionados apresentavam idade entre 20 e 66 anos e foram
divididos em subgrupos a partir de semelhanças quanto aos distúrbios
psiquiátricos apresentados e quanto a fatores como: uso ou não de cigarro,
perfil da pressão arterial, passado de doenças cardiovasculares e uso ou não de
fármacos antidepressivos ou hipolipemiantes.
Foi
feito então um estudo longitudinal, no qual mediu-se o grau de enrijecimento
arterial desses indivíduos por meio de dois parâmetros: a análise do pulso
arterial radial e por ultrassonografia da artéria carótida. Comparou-se essa e
outras características entre grupos e subgrupos obtendo-se os seguintes
resultados:
Comparado ao grupo controle, os indivíduos com depressão
em curso ou transtorno de ansiedade apresentaram menor nível educacional, menor pressão sistólica e média da pressão arterial, maior uso de terapia hipolipemiante e maior número de fumantes. O grupo de depressão remitente não diferiu significantemente do controle. Em
relação às características psiquiátricas, os indivíduos com depressão em curso ou ansiedade apresentaram maiores valores de IDS (Inventory of Depressive Symptomatology), BAI (Beck Anxiety Inventory) e duração dos sintomas. IDS e BAI são questionários que avaliam o grau da depressão e ansiedade, respectivamente.
Tendo
em vista os mecanismos envolvidos no processo, é sabido que os distúrbios
mentais contribuem para um estilo de vida menos saudável, o que inclui tabagismo, pouca atividade física e despreocupação com a dieta. No entanto, tentou-se eliminar essas variáveis no estudo, exceto pela dieta, que é mais
dificilmente avaliada. Assim, outros seriam os mecanismos envolvidos, como um
desbalanço do sistema nervoso autônomo. Além disso, o estresse mental está
provavelmente associado a um aumento de citocinas inflamatórias, o que teria
participação no acometimento arterial.
Diante dos
resultados, é importante destacar que as doenças cardiovasculares apresentam etiologia multifatorial e, por mais que esse estudo tenha se esforçado em analisar a influência da depressão e do transtorno de ansiedade de maneira mais isolada, as amostras obtidas estão longe de serem homogêneas. Além disso, observa-se que, entre as diversas análises feitas a partir dos dados obtidos, apenas parte delas reforçam a hipótese
inicial. No entanto, algumas conjecturas foram levantadas para explicar a
falta dos resultados esperados e os resultados inesperados. Por exemplo, a incongruência entre os achados obtidos pela análise do pulso radial e da ultrassonografia carotídea foi justificada pela heterogeneidade do estado das artérias em diferentes locais.
falta dos resultados esperados e os resultados inesperados. Por exemplo, a incongruência entre os achados obtidos pela análise do pulso radial e da ultrassonografia carotídea foi justificada pela heterogeneidade do estado das artérias em diferentes locais.
Apesar das ressalvas, os dados obtidos
indicam que depressão e ansiedade estão associados a um aumento da pressão
arterial média em decorrência do aumento da rigidez arterial. Dessa forma,
particularmente naqueles com sintomas graves e/ou de longa duração, a
depressão e a ansiedade podem contribuir para o desenvolvimento de
aterosclerose e outras doenças cardiovasculares.
Para um controle do enrijecimento arterial em termos de depressão e ansiedade, é destacada a importância de um tratamento efetivo desses distúrbios, como também a atenção que deve ser dada a melhorias no estilo de vida.
Referência: Seldenrijk et al. Depression, Anxiety, and Arterial Stiffness. Biol Psychiatry 2011;69:795-803. [Link]
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