Por Edson Alexandre Silva Carvalho e Germano de Souza Almeida.
Em
19 de Agosto de 2012 foi publicado na Psychopharmacology o artigo ‘Lurasidone
in the treatment of schizophrenia: a 6-week, placebo-controlled study.’’ o qual apresenta um ensaio clínico sobre a lurasidona,
fármaco antipsicótico atípico aprovado para uso em 2010 pelo FDA.
A
lurasidona, assim como outros antipsicóticos, é um modulador dopaminérgico do
sistema nervoso central. Segundo o ensaio, o fármaco tem como diferencial um
perfil de efeitos colaterais mais favorável. Sintomas como sedação, sonolência
e ganho de peso seriam menos frequentes o que torna a adesão ao tratamento
facilitada. A lurasidona é antagonista de alta afinidade dos receptores D2,
5-HT2A e 5-HT7, de afinidade intermediária do receptor α2C
adrenérgico e de baixa afinidade do receptor α2A adrenérgico. O
fármaco também age como agonista parcial do receptor 5-HT1A e,
notavelmente, não tem ação nos receptores H1 de histamina e M1muscarínico,
o que explica em parte a promessa de reduzir efeitos como sonolência e sedação.
Inicialmente
foram selecionados 223 paciente de ambos os gêneros com idades entre 18 e 64
anos e diagnóstico primário de esquizofrenia segundo o DSM-IV. Após um período
de observação de 14 dias 149 pacientes se enquadraram perfeitamente nos
critérios do estudo e foram segregados aleatoriamente em três grupos: 50 para lurasidona
40 mg/dia; 49 para lurasidona 120 mg/dia; 50 para placebo. O estudo duplo-cego
seguiu-se por 6 semanas e os resultados foram divulgados com base na ‘’Brief Psychiatric Rating Scale score derived’’ (BPRSd),
uma escala para mensurar sintomas positivos e negativos da esquizofrenia. É
interessante ressaltar que o uso de alguns fármacos foram permitidos durante o
estudo. Mesilato de benzotropina ou biperideno (1-2 mg/dia) foi permitido para
o tratamento de sintomas extrapiramidais, mas não profilaxia. Lorazepam (até 8
mg/dia), zolpidem (até 10 mg/dia), temazepam (até 30 mg/dia) e hidrato de
cloral (até 1500 mg/dia) também foram permitidos em caso de exacerbação dos
sintomas psicóticos.
Um ponto contestável do estudo foi a adesão ao tratamento. Dos
149 pacientes que iniciaram o ensaio somente 51 chegaram ao fim das 6 semanas,
o que faz diminuir a credibilidade dos resultados uma vez que o número de
pacientes para serem avaliados tornam-se pequenos, sujeitos à aleatoriedade. A
figura seguinte, retirada do artigo, mostra os principais motivos de
desistência.
Os
pacientes que se submeteram ao tratamento por lurasidona obtiveram, em geral, redução
na BPRSd indicando melhora nos sintomas psicóticos. Não se percebeu grande
diferença entre os grupos de 40 mg/dia e 120 mg/dia; observou-se inclusive
melhores resultados entre os pacientes usando menor quantidade do fármaco por
dia. Quanto aos efeitos colaterais, foram observados inúmeros e em diversas
frequências. Náuseas e sedação foram os mais recorrentes, aparecendo nos três
grupos sendo maior nos que não utilizaram placebo. Sintomas mais graves como
tremores, transtornos extrapiramidais e acatisia foram pouco frequentes e
inexistentes no grupo placebo.
A lurasidona não é nenhuma droga
revolucionária ou milagre farmacológico, entretanto é uma opção no tratamento
da esquizofrenia. Seu mecanismo, assim como os demais antipsicóticos, consiste
na modulação dopaminérgica no sistema nervoso central. Seu perfil de efeito
colateral mostrou-se semelhante aos demais antipsicóticos de segunda geração e
atípicos, apesar de sintomas como sedação e sonolência parecerem ser menos
frequentes com seu uso. Apesar das falhas, o estudo serviu para dar uma noção
sobre esse novo fármaco e atualizar os médicos quanto a alternativas de
tratamento. Abaixo são mostrados gráficos sobre a eficácia do tratamento
durante as 6 semanas e os efeitos colaterais detectados.
Referência: Ogasa M, Kimura T, Nakamura M, Guarino J. Lurasidone in the treatment of schizophrenia: a 6-week, placebo-controlled study. Psychopharmacology (Berl). 2013 Feb;225(3):519-30. [Link]
Referência: Ogasa M, Kimura T, Nakamura M, Guarino J. Lurasidone in the treatment of schizophrenia: a 6-week, placebo-controlled study. Psychopharmacology (Berl). 2013 Feb;225(3):519-30. [Link]
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