Por Felipe
Moratti e Luiza Azevedo
Há muito estigma
associado aos transtornos mentais, e esse é o principal desafio para seus
portadores. Os recursos disponibilizados pelo governo para a saúde mental são
poucos e, assim, os doentes enfrentam dificuldades na busca por moradia,
trabalho e atendimento de saúde de qualidade, bem como sofrem com o isolamento
social. Uma pesquisa recente realizada por Guarniero e colaboradores analisou o estigma social, as formas de
discriminação e o preconceito que sofrem esses pacientes representados na
mídia. O estigma é formado a partir de forças sociais ou políticas bem
determinadas e está representado nas ações e mensagens de instituições privadas
ou governamentais que restringem as oportunidades dos grupos estigmatizados.
Ocorre a partir de mensagens estereotipadas, preconceituosas e/ou
discriminatórias sobre os transtornos mentais e seus portadores. Os portadores
convivem diariamente com o desafio duplo de lutar contra os sintomas
incapacitantes provocados pela sua condição e contra os efeitos injustos dos
estereótipos e preconceitos criados ao seu redor. Consequentemente, eles são
condenados a um quase inevitável círculo vicioso de marginalizarão, alienação,
pobreza e exclusão social.
O estudo foi realizado em três etapas: levantamento de notícias, classificação dos itens encontrados e análise do contexto em que foram publicados. Na primeira etapa, foram coletadas notícias do jornal Folha de S. Paulo do ano de 2008 em uma primeira fase. Na segunda fase, selecionou-se reportagens, editoriais, textos em blogs e colunas encontrados na internet nos sites dos jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo e das revistas Veja e Época do ano de 2011,contendo os termos "esquizofrenia” ou “esquizofrênico(a)". Na segunda etapa os achados foram divididos em (i)ciência e saúde, (ii) crime e violência e (iii) uso metafórico. Na terceira etapa, todos os itens foram analisados quanto ao contexto de publicação.
Análise do contexto: na
área da ciência e saúde, destacam-se a relação entre Cannabis e esquizofrenia e a impessoalidade com que a doença é
tratada. Nos crimes e violência destacam-se vários diagnósticos de
esquizofrenia para suspeitos de crimes sem discussão aprofundada com
especialistas no campo da saúde mental. No uso metafórico destaca-se o fato de
que não foram encontrados itens com uso metafórico positivo, além das várias
associações do termo “esquizofrenia” com os sentidos de “absurdo”, “incoerente”
e “contraditório”.
Os resultados da pesquisa mostraram que a estigmatização da doença é mais intensa no campo dos crimes e da violência. Notou-se que somente após crimes de grande impacto emocional e polêmicos que um psiquiatra é convidado a falar a respeito da esquizofrenia, o que ajudou a fortalecer a associação entre esquizofrenia e violência / criminalidade. Essa associação é polêmica, havendo estudos que a confirmam e outros que a refutam. Fato é que se tem mostrado que aqueles pacientes esquizofrênicos envolvidos com a criminalidade apresentam, também, abuso de substâncias ou ausência de tratamento médico. Estudos mostram, ainda, que há maior associação da criminalidade com fatores como idade, gênero ou etnia, do que com os transtornos mentais. No entanto, devido a essa distorção criada pela mídia, as pessoas frequentemente veem os portadores de doenças mentais como perigosos ou violentos, o que aumenta o estigma e a exclusão social desse grupo.
Os resultados da pesquisa mostraram que a estigmatização da doença é mais intensa no campo dos crimes e da violência. Notou-se que somente após crimes de grande impacto emocional e polêmicos que um psiquiatra é convidado a falar a respeito da esquizofrenia, o que ajudou a fortalecer a associação entre esquizofrenia e violência / criminalidade. Essa associação é polêmica, havendo estudos que a confirmam e outros que a refutam. Fato é que se tem mostrado que aqueles pacientes esquizofrênicos envolvidos com a criminalidade apresentam, também, abuso de substâncias ou ausência de tratamento médico. Estudos mostram, ainda, que há maior associação da criminalidade com fatores como idade, gênero ou etnia, do que com os transtornos mentais. No entanto, devido a essa distorção criada pela mídia, as pessoas frequentemente veem os portadores de doenças mentais como perigosos ou violentos, o que aumenta o estigma e a exclusão social desse grupo.
Em relação à ciência e
saúde, os resultados mostraram completa impessoalidade das publicações. Não se
fala da pessoa, de suas dificuldades ou de seus sofrimentos, mas somente da
doença. Em raras publicações falou-se da dificuldade do esquizofrênico em
conseguir tratamento especializado e em nenhuma mencionou-se o combate ao
preconceito ou à discriminação.
Já no que se refere ao uso
metafórico, observou-se, recorrentemente, que o termo “esquizofrenia” é muito
usado não como termo médico, mas com uma conotação depreciativa em colunas de
política, economia e nas editorias de artes e espetáculos. Esse uso é notadamente
indevido, contribuindo para reforçar o estigma e os estereótipos em torno da
doença. Esses conceitos equivocados que a mídia passa para a população
dificulta a aceitação social da doença e contribui para que uma parcela
importante dos doentes deixe de procurar auxílio médico.
Por fim, nota-se a
necessidade de mobilização dos profissionais de saúde mental em prol do fim da
estigmatização da esquizofrenia nos meios de comunicação. Para tal, poderia ser
seguido o exemplo do Canadá: com o objetivo de aumentar o número de reportagens
positivas sobre a esquizofrenia nos meios de comunicação do país, foram
realizadas premiações para reportagens, conferências e eventos para
esclarecimentos da imprensa e sugestões de pautas diretamente a repórteres e
editores. Sem o estigma criado pela mídia, os portadores de doença mental
teriam, por fim, um desafio a menos no processo da inclusão social.
0 comentários:
Postar um comentário