Na
atualidade, o desempenho do papel social vem dependendo cada vez mais do uso do
computador. Nas escolas, nas universidades, no trabalho a interação com esta
ferramenta é imprescindível para o êxito nas atividades diárias, sendo
necessária até mesmo na consolidação das relações interpessoais.
Esta
grande influência levanta questionamentos acerca dos seus impactos na saúde
mental. Ao mesmo tempo que se constitui como uma ampliação das redes sociais e
expansão dos limites físicos, o computador (e a internet) podem ser utilizados
como uma fuga da realidade, favorecendo a reclusão e o isolamento.
Tal investigação foi o tema do artigo
“Computer Use and Stress, Sleep Disturbances, and Symptoms of Depression Among
Young Adults”, de Sara Thomée, Annika Härenstam e Mats Hagberg. Eles aplicaram
um questionário em jovens adultos selecionados randomicamente, com idades entre
20 e 24 anos, abordando o padrão de uso de computadores e a percepção destes acerca
da sua saúde mental.
Sobre o uso do computador, foi
perguntado quantas horas por dia o participante utiliza computador (em média);
qual a finalidade do uso; se o uso é contínuo ou se existe intervalo. Além
disso, esse grupo investigou o uso dos telefones celulares: quantas ligações e
quantas mensagens de texto são recebidas e realizadas/enviadas, em média, por
dia.
Para avaliar a percepção individual da
saúde mental, foi perguntado se atualmente a pessoa está se sentindo
estressada; com que freqüência teve problemas para dormir; se no último mês se
sentiu desmotivada, desanimada, deprimida e sem esperança; e se alguma das
condições descritas anteriormente determinou diminuição do desempenho nos
estudos ou no trabalho. Também foi questionado se os participantes possuíam
rede de suporte social consolidada. Em cada uma dessas perguntas, existia uma breve
explicação para não gera dúvidas a respeito de conceitos subjetivos. Os
participantes que relataram sintomas no início do estudo foram excluídos da
categoria. Um ano depois, foi aplicado o mesmo questionário para as pessoas que
haviam sido aprovadas anteriormente e os novos resultados foram analisados.
O uso do computador está relacionado
com aumento do estresse, piora na qualidade do sono e redução do desempenho.
Além disso, pode ser relacionado com aumento dos sintomas depressivos,
principalmente em mulheres sedentárias.
Existem diferenças entre os efeitos nos
homens e nas mulheres. Nos primeiros, o sono é o principal parâmetro afetado,
enquanto os sintomas depressivos não são significativamente alterados. No sexo
feminino, existe um comprometimento mais geral, em todos os aspectos
analisados, sendo que em todos os parâmetros, são mais afetadas que os homens.
O uso por mais tempo do computador não apresentou benefícios na consolidação de
redes de apoio e se configura como um fator de isolamento social.
São
feitas inúmeras especulações acerca dos malefícios do uso do computador e a
relevância desse estudo se deve justamente ao emprego do método científico
buscando a comprovação de alguma dessas hipóteses. Saber um pouco mais no que o
uso de computadores pode resultar, é importante pois corrobora para um uso
consciente equilibrado do mesmo.
Além disso, este trabalho abre caminhos
para futuras pesquisas que podem aprofundar em outras questões ainda não
abordadas, como os mecanismos pelos quais o computador afeta a saúde mental; os
efeitos do uso no desenvolvimento de crianças – que cada vez mais cedo se
tornam usuárias dessa ferramenta; se os efeitos na saúde mental vão além dos já
identificados; se os resultados se estendem para outros grupos populacionais.
É importante ressaltar que os dados da
pesquisa não podem ser generalizados. A pesquisa foi realizada numa faixa etária bastante
restrita, que pode não refletir o padrão de uso global de computadores. Além disso, os participantes não foram
submetidos a um diagnóstico profissional, refletindo somente a percepção
pessoal da sua saúde mental. Nesse sentido, pode haver uma influência sociocultural no fato de as mulheres
relatarem mais queixas acerca da saúde mental que os homens.
O estudo foi realizado antes da
popularização do Facebook, o que certamente teria influência nos resultados.
Outra questão a ser pensada é que o estudo não avaliou o uso do celular para
acessar a internet, que é um fator perceptível no aumento do isolamento.
É importante considerar que pode ter
ocorrido um viés nos resultados obtidos, pois pessoas sabidamente mais reclusas
tendem a buscar atividades mais solitárias e preferir contatos virtuais, já
possuindo uma tendência ao isolamento, que não foi causado pelo uso do
computador.
O uso excessivo do computador pode
gerar malefícios para a saúde mental, entretanto, não tem como abolir seu uso
do cotidiano moderno. Cada pessoa deve se tornar responsável por tentar
diminuir os danos desse uso nas suas vidas e adotar hábitos mais saudáveis.
Realizar atividades físicas, principalmente as que favoreçam contato social;
buscar outras atividades prazerosas e de lazer; evitar uso interrupto; buscar
ter uma rotina de sono adequada.
Referência: Thomée S, Härenstam A, Hagberg M. Computer use and stress, sleep disturbances, and symptoms of depression among young adults--a prospective cohort study. BMC Psychiatry. 2012 Oct 22;12:176. doi: 10.1186/1471-244X-12-176 [Link]
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