
Para a vida dos doentes mentais, o consumo de cigarros pode proporcionar a sensação de alívio de muitos sintomas da doença, de alguns efeitos colaterais de medicamentos, da inquietação decorrente do ócio e da restrição de comportamentos a que estão submetidos em um ambiente de internação. O fumo, porém, é visto, por muitos profissionais da saúde, como instrumento que apazigua e facilita a interação social dos doentes internados e esse é um dos motivos das dificuldades para o controle do uso do tabaco durante as internações.
Diante dessas considerações, alguns hospitais psiquiátricos resolveram adotar a política antifumo. É um processo que foi incorporado recentemente no Instituto Raul Soares, em Belo Horizonte e que já vem sendo aplicado na Enfermaria de Psiquiatria (EPQU) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCRP), desde 2009. No hospital paulista, foi oferecido aos fumantes internados o uso de adesivo de nicotina para minimizar alguns efeitos da abstinência. O estudo exploratório-descritivo publicado em janeiro de 2012 na Revista Eletrônica de Saúde Mental Álcool Drogas fez uma pesquisa semi-estruturada para delinear a opinião dos pacientes da EPQU-HCRP em relação à medida e investigar o grau de dependência dos fumantes.

O estudo também mostra que pacientes psiquiátricos apresentam dependência mais intensa do que indivíduos que fumam e não apresentam diagnóstico de doença mental comórbida, sendo que ela foi avaliada pela aplicação do questionário de Fagerström. Estudos prévios indicam uma forte relação entre o fumo e o desenvolvimento de distúrbios de ansiedade (agorafobia, pânico e ansiedade generalizada). Essa relação poderia estar associada, entre outros, aos efeitos ansiogênicos da nicotina. Porém cabe a crítica da relação causa-efeito: não se pode afirmar que o fumo levou aos transtornos, ou se esses transtornos levaram ao fumo para aliviar os sintomas.
Apesar de percebermos, no presente estudo, que a maioria dos pacientes concordam com a não permissão do uso de cigarros pelos pacientes em HD e CAPES, os percentuais foram menores em relação à sua proibição nos ambulatórios. Talvez essa diferença seja explicada pelo fato de que os pacientes, em geral, permanecem por período de tempo maior em HD e CAPS do que em ambulatórios. Considerando o ambiente de uma enfermaria hospitalar, onde o objetivo é proporcionar melhor qualidade de vida e cuidado à saúde das pessoas internadas, a liberação de um hábito que vai contra esses princípios seria uma enorme incoerência. Ainda que a interrupção temporária do uso do tabaco não seja garantia da cessação do seu hábito após a alta dos pacientes internados, é uma oportunidade significativa para tentar minimizar a dependência do fumo. Além disso, o delineamento da opinião de pacientes psiquiátricos internados sobre a restrição do hábito de fumar é de fundamental importância para o estabelecimento de abordagens eficazes desses pacientes, de modo conjunto entre médico, equipe multiprofissional de saúde e paciente, visando a cessação do fumo, acompanhada de medidas que ajudem na facilitação desse processo de combate à dependência.
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