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sábado, 6 de dezembro de 2014

Transtorno de Ansiedade: maior risco de suicídio?

Por Lívia Calastri e Sabline Rodrigues.

O comportamento suicida vem ganhando impulso em termos numéricos e, principalmente, de impacto, sendo que nos últimos 45 anos, a mortalidade global por suicídio vem migrando em participação percentual do grupo dos mais idosos para o de indivíduos mais jovens (15 a 45 anos). Tanto que na faixa etária entre 15 e 35 anos, o suicídio está entre as três maiores causas de morte e em indivíduos entre 15 e 44 anos, o suicídio é a sexta causa de incapacitação.

Um dos prováveis motivos para isso é a mudança sociocultural que vem ocorrendo no mundo desde as Revoluções Industriais, exacerbada com o advento da internet e da globalização, as quais causaram grandes alterações no cotidiano das famílias e do indivíduo, trazendo um volume muito maior de informações, oportunidades, benefícios e, ao mesmo tempo, novas responsabilidades, deveres e obrigações.

O Impacto do Uso da Maconha na Memória de Adolescentes

Por Vinícius de Moraes Palma e Pedro Henrique R. Carvalho.

O uso da maconha tem se tornado cada vez mais popular entre os adolescentes brasileiros. A grande maioria deles influenciados por questões semelhantes às que fizeram os jovens do início do século XX a consumirem o cigarro industrializado. Esse crescente uso da maconha por jovens apoiado por movimentos que buscam a descriminalização da venda, tornou-se assunto de grande polêmica social e científica. No campo da ciência, muitas questões continuam sem serem respondidas, dentre elas deve-se destacar às que se referem ao uso crônico da planta: “Quais são suas reais consequências para o sistema nervoso?” “Existe relação entre o uso da maconha na adolescência e falhas cognitivas futuras?”. Para responder essas questões diversas pesquisas têm sido realizadas. Vários aspectos ainda não puderam ser concluídos, mas já se sabe que o uso da maconha por adolescentes é sim uma importante questão de saúde pública e deve receber atenção dos governos.
Recente estudo realizado nos Estados Unidos entitulado Repeated Δ9-Tetrahydrocannabinol Exposure in Adolescent Monkeys: Persistent Effects Selective for Spatial Working Memory, publicado no American Journal of Psychiatry em Abril de 2014,  mostrou que o uso constante de maconha pode causar alterações na memória de trabalho espacial em adolescentes. No estudo foram usados sete pares de macacos com 14 a 18 meses de vida (tempo de vida com alto desenvolvimento cerebral, assim como na adolescência humana) que receberam doses de THC intravenoso diariamente por 6 meses e tiveram que realizar testes relacionados a memória. Os resultados foram quantificados e mostram que em testes de memória espacial, em que os macacos tinham que memorizar a posição de um objeto mostrado na tela de um computador, o THC teve uma grande influência negativa no desenvolvimento desse tipo de habilidade. Com isso, o estudo sugere que o uso de maconha na adolescência pode estar relacionado com alterações cognitivas de seres humanos na fase adulta, sendo um importante problema de saúde pública.

Quedas, um problema em ascensão

Por Álvaro Luiz Mendes da Nóbrega e Diogo Lemos Araujo.

Os países em desenvolvimento apresentaram, nas ultimas décadas, uma progressiva diminuição nas taxas de mortalidade e fecundidade. Associados, esses dois fatores promoveram a base demográfica para um envelhecimento dessas populações. O crescimento populacional de idosos, em números absolutos e relativos, é um fenômeno mundial e esta ocorrendo a um nível sem precedentes. Isto é considerado pela demografia como um sinal de desenvolvimento e para a saúde publica uma conquista, pois almejar vida longa é uma aspiração legitima do ser humano. Com o envelhecimento muitas preocupações surgem e uma muito importante são as quedas.

As quedas são um dos principais problemas de saúde para idosos. Aproximadamente 30% da população de idade acima de 65 anos experimenta uma experiência de um ou mais quedas anualmente. As quedas são a terceira principal causa de doenças crônicas que geram deficiência em todo o mundo. Nos EUA, a estimativa anual do custo para lesões relacionadas com quedas excedeu 9 bilhões de dólares para aqueles com idade de 65 anos ou mais em 2004.

O uso de antidepressivos pode aumentar o risco de suicídios?

Por Amanda Lage Alves, Rafael de Matos Tavares e Pedro Henrique Machado.

Fármacos e efeitos colaterais estão intimamente relacionados. Não podemos negar os benefícios que as drogas farmacêuticas trouxeram para nossa sociedade. No entanto, temos seus efeitos adversos atrelados. O controle do custo-benefício para a saúde do paciente é controlado primeiramente pelas agências reguladoras. Elas analisam se os fármacos são mais benéficos do que prejudiciais e autorizam sua venda comercial. Além desse papel de liberar a comercialização, elas também são responsáveis em exigir dos fabricantes a seguirem alguns parâmetros de transparência, como, por exemplo, alertar ao consumidor os possíveis efeitos colaterais de seu produto.

Em 2004 a FDA (Food and Drug Administration) regulamentou que os antidepressivos deveriam apresentar em seu rótulo um novo aviso, em uma caixa de texto preta, avisando aos consumidores que esses fármacos eram responsáveis pelo aumento do pensamento, sentimento e comportamento suicida em jovens. Essa nova regulamentação despertou o questionamento de inúmeras pessoas do meio médico, pois esse aviso poderia desencorajar pessoas deprimidas a procurarem ajuda e, também, os médicos a prescreverem tais medicamentos. Sendo assim, uma medida que poderia ser mais danosa à sociedade do que benéfica, pois indivíduos que necessitam de apoio ficariam desamparados e, portanto, mais vulneráveis ao risco de suicídio. Agora, passados 10 anos dessa medida, quais foram seus efeitos? As taxas de suicídio aumentaram ou decaíram? O taxas de detecção e tratamento de quadros depressivos se alteraram?

Consumo de drogas entre jovens. É tudo a mesma coisa?

Por Guilherme Dias Rocha de Mello e Letícia Pereira Fortunato.

O uso e abuso de substâncias psicotrópicas entre jovens, principalmente entre os estudantes universitários, tem aumentado gradativamente nos últimos anos, sendo um problema de saúde coletiva que desperta atenção. Tal problema pode gerar consequências para o usuário como o desenvolvimento de diversos transtornos relacionados ao uso de substâncias, divididos pelo DSM-IV em transtorno por uso de substância, incluindo dependência e abuso, e transtorno induzido por substância, o qual inclui intoxicação, abstinência, Delirium, demência persistente, transtorno amnésico persistente, transtorno psicótico, transtorno de humor, transtorno de ansiedade, disfunção sexual e transtorno do sono.

Um estudo recente realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo compara o uso de drogas entre universitários brasileiros e norte-americanos, assim como com a população jovem geral brasileira, na tentativa de identificar possíveis diferenças de uso de drogas pela interferência da cultura.

Será que saí são?

Por Marihana Miranda Batista e Lygia Borges Milhomem.

Uma internação em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) é uma experiência da vida que, sem dúvidas, deixa grandes lembranças. Atualmente, tem-se estudado cada vez mais as alterações psiquiátricas que os eventos relativos à internação em UTI podem causar. Dentre elas, destacam-se: a depressão, os transtornos de ansiedade, as alterações de memórias e o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Estudo recente desenvolvido, por um ano, no Hospital Universitário do Oeste do Paraná, relaciona a prevalência de transtorno de estresse pós-traumático em pacientes submetidos à ventilação mecânica.

Uso de bebidas alcoólicas afetando o desempenho acadêmico

Por Leandro Augusto Braga.

As bebidas alcoólicas são amplamente disponíveis no ambiente universitário, especialmente nas festas.  Nestas, são os jovens acadêmicos o principal público-alvo das campanhas publicitárias que incentivam o uso de álcool, com alusões deste como forma de pertencer ao seu grupo,
possuir liberdade, e, especialmente, entrar para a vida adulta - uma sensação de estar livre do controle da família.
O álcool é especialmente prejudicial quando vira um vício e na maioria das vezes vai cumprir critérios para dependência apenas na idade adulta - quando um modelo estabelecido de beber é alcançado. No entanto, o consumo excessivo, mesmo que não dependente (observado em grande parte dos universitários), aumenta o risco de danos relacionados com o álcool, tanto decorrentes da alteração comportamental que o mesmo provoca como também, possivelmente, altera o desempenho acadêmico – frequência nas aulas, notas nas atividades avaliativas e consequentemente atraso na formação. Dessa forma, um estudo transversal visou estabelecer uma relação entre o padrão do consumo de álcool pelos universitários e as consequências que o mesmo causa no seu desempenho acadêmico.

As possibilidades de associação entre transtornos mentais e criatividade

Por Aloisio Romanelli e Gabriel Costa.

Muitos pesquisadores buscaram compreender as associações entre desordens psíquicas e a criatividade; a partir de seus estudos eles proporcionaram alguma evidência empírica dessa associação, sobretudo quando concentravam-se em esquizofrenia e transtorno bipolar. No entanto, os estudos anteriores geralmente são dificultados por fatores como as pequenas coortes, a falta de instrumentos padronizados para avaliar-se a criatividade e o uso restrito de biografias como meio de estabelecer diagnósticos. Nesse sentido o artigo “Mental illness, suicide and creativity: 40-Year prospective total population study” objetivou construir um método plausível de investigação dessa temática, fazendo-o através de um amplo estudo de caso-controle.
    Na pesquisa foram investigados 65.589 pacientes suecos, no período de 1973 a 2009, diagnosticados com o auxílio do Registro Nacional de Pacientes nos seguintes grupos: esquizofrenia, transtorno esquizoafetivo, transtorno bipolar, depressão unipolar, transtorno de ansiedade, abuso de álcool, abuso de outras drogas, autismo, desordem de hiperatividade e déficit de atenção, anorexia nervosa e, por fim, indivíduos que cometeram suicídio. Procurou-se, ainda, a presença desses transtornos nos parentes de primeiro, segundo e terceiro graus dos pacientes. Definiu-se como critério de criatividade o exercício de ocupações com caráter artístico ou científico e enquadraram-se os autores em um grupo separado. Ao final do estudo, a partir da comparação com os controles, não foi encontrada nenhuma associação positiva entre psicopatologia e ocupações criativas, exceto para o transtorno bipolar. De outro modo,
indivíduos que ocupavam profissões criativas possuíam reduzida probabilidade de serem diagnosticados com os transtornos mencionados, excetuando-se o bipolar; e apresentavam uma menor chance de cometerem suicídio. Já os autores sofriam de esquizofrenia e transtorno bipolar mais do que duas vezes os controles; eles também foram mais propensos a terem diagnóstico de depressão unipolar, transtornos de ansiedade, abuso de álcool, abuso de outras drogas e cometerem suicídio. Além disso, os resultados indicaram que os familiares de indivíduos criativos tinham mais chance de apresentar esquizofrenia, transtorno bipolar, anorexia nervosa e autismo.
sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Um "rito de passagem" perigoso: consequências psicopatológicas do bullying

Por Ana Clara da Cunha Gomes e Jéssica Ferreira Barbieri

Bullying é um tema que vem despertando cada vez mais o interesse de pais, professores e profissionais da saúde. É um termo usado para qualificar comportamentos

agressivos entre alunos no âmbito escolar e caracteriza-se por agressões intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira repetitiva, por um ou mais alunos contra um ou mais colegas. Pode ser dividido em quatro categorias: físico, verbal, relacional e o sexual. Há ainda o cyberbullying, que ocorre através de mensagens e comentários em redes sociais na internet. Nesses casos a vítima é perseguida mesmo fora da escola e muitas vezes os perpetradores do bullying usam o ambiente virtual para se manterem anônimos. Pesquisas mostram indícios de bullying desde 1960, porém era denominado assédio moral (“mobbing”) e caracterizado como agressão coletiva contra outros da mesma espécie.

Pesquisas de intervenção sistemática começaram quando três garotos se suicidaram em um curto intervalo de tempo na Noruega, todos deixando anotações de que tinham sofrido bullying por seus colegas. Desde então, acredita-se que ser vítima de bullying aumenta o risco de depressão, sintomas psicóticos, ideação suicida e tentativas de suicídio, problemas de saúde, de comportamento, emocionais e de rendimento escolar. Ainda assim, é bastante popular a opinião que bullying 'constrói caráter', é um 'rito de passagem' e 'aumenta a resistência' do indivíduo para enfrentar os desafios da vida adulta.
terça-feira, 25 de novembro de 2014

Poucas palavras podem dizer muito. Fobia social ou transtorno do espectro autista?

Por Andrigo Neves e Silva Lopes de Saldanha e Ayrton de Castro.

Tem sido sugerida uma ligação entre transtornos do espectro do autismo (TEA) e transtornos de ansiedade. Indivíduos com transtorno do espectro do autismo (TEA) apresentam altas taxas de co-morbidade psiquiátrica. Crianças e adolescentes com Síndrome de Asperger (um dos transtornos do espectro autista) parecem ser particularmente propensas a desenvolver fobia social. Muitas das crianças com TEA experimentam repetidos episódios de rejeição o que pode resultar em comportamento de evitação e fobia social. Retraimento e isolamento em situações sociais são freqüentemente observados em pessoas com fobia social, entretanto e estes comportamentos também são comuns em transtornos do espectro autista. Tais semelhanças podem dificultar o diagnóstico de um quadro de transtorno do espectro autista, resultando em diagnósticos demasiadamente freqüentes de fobia social e, por outro lado, em atrasos na detecção do TEA.

"Nem fumar a gente pode?" Pacientes psiquiátricos internados falam sobre a proibição do hábito de fumar

Por Fernanda Alves e Jéssica Arantes.



Para alguns indivíduos, a internação aparece como forma de diminuir ou mesmo interromper temporariamente o uso do tabaco, o que não é garantia de cessação do seu hábito mas pode ser uma forma de iniciar a redução da dependência química tabagistas internados. Sabe-se que os doentes mentais são um grupo mais vulnerável ao hábito de fumar, apesar do impacto do fumo nessa população ter sido, por muitos anos, negligenciado, devido a falhas no reconhecimento de que fumar é uma forma de dependência. Em pessoas com transtornos psiquiátricos, o tabagismo é mais prevalente do que na população em geral, inclusive com níveis de tolerância e dependência mais elevados.

Para a vida dos doentes mentais, o consumo de cigarros pode proporcionar a sensação de alívio de muitos sintomas da doença, de alguns efeitos colaterais de medicamentos, da inquietação decorrente do ócio e da restrição de comportamentos a que estão submetidos em um ambiente de internação. O fumo, porém, é visto, por muitos profissionais da saúde, como instrumento que apazigua e facilita a interação social dos doentes internados e esse é um dos motivos das dificuldades para o controle do uso do tabaco durante as internações.