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terça-feira, 4 de junho de 2013

Do vazio mental ao vazio corporal: um olhar psicanalítico sobre as comunidades virtuais pró-anorexia

Por Lívia Lourenço do Carmo e Matheus Prates Cantarino

           A anorexia nervosa é um transtorno alimentar que ocorre principalmente em mulheres e tem como aspectos psicopatológicos centrais o medo mórbido de engordar e o controle obsessivo do peso corporal, levando ao emprego excessivo de dietas restritivas, métodos purgativos e/ou a prática exacerbada de exercício físico.
           A internet se destaca como valiosa fonte de dados para a análise do funcionamento psíquico de pacientes anoréxicas. Os sites, comunidades, blogs e chats pró-anorexia veiculam estratégias para perder peso em pouco tempo, meios de acobertamento de sintomas associados à doença e fotos de celebridades esquálidas como inspiração, relacionando o ideal de beleza centrado na magreza à ascensão financeira, ao sucesso profissional e à aceitação social. Neste ambiente, a anorexia é normalmente defendida como estilo de vida e não como um transtorno.

Religião e Saúde Mental


Por Gregório Victor Rodrigues.

A religiosidade é algo que está determinantemente implicada na psicopatologia e na terapêutica dos muitos transtornos. Muitos são os pacientes que relatam suas histórias de sofrimento e culpabilização ou fervor e esperança religiosas. O interesse científico sobre a relação entre religião e psiquiatria é crescente, como mostra o crescimento vertiginoso no número de publicações sobre o assunto.

Número de estudos no site de busca científica PubMed para a pesquisa ‘’religion and health’’.

Percebendo, pois, esse fato e, sob a perspectiva científica, querendo investigar alguma relação subjacente da variável religiosidade, alguns cientistas têm se atentado para a questão. É o caso de Harold G. Koening, eminente médico psiquiatra da Duke University Medical Center, e um dos autores do artigo "Longitudinal Relationships of Religion with Posttreatment Depression Severity in Older Psychiatric Patients: Evidence of Direct and Indirect Effects".


segunda-feira, 3 de junho de 2013

A esquizofrenia na mídia: estigma e preconceito

Por Felipe Moratti e Luiza Azevedo


Há muito estigma associado aos transtornos mentais, e esse é o principal desafio para seus portadores. Os recursos disponibilizados pelo governo para a saúde mental são poucos e, assim, os doentes enfrentam dificuldades na busca por moradia, trabalho e atendimento de saúde de qualidade, bem como sofrem com o isolamento social. Uma pesquisa recente realizada por Guarniero e colaboradores analisou o estigma social, as formas de discriminação e o preconceito que sofrem esses pacientes representados na mídia. O estigma é formado a partir de forças sociais ou políticas bem determinadas e está representado nas ações e mensagens de instituições privadas ou governamentais que restringem as oportunidades dos grupos estigmatizados. Ocorre a partir de mensagens estereotipadas, preconceituosas e/ou discriminatórias sobre os transtornos mentais e seus portadores. Os portadores convivem diariamente com o desafio duplo de lutar contra os sintomas incapacitantes provocados pela sua condição e contra os efeitos injustos dos estereótipos e preconceitos criados ao seu redor. Consequentemente, eles são condenados a um quase inevitável círculo vicioso de marginalizarão, alienação, pobreza e exclusão social.


O impacto psicológico da criança sobrevivente do câncer e de seus familiares

Por Daniel Palmer Caldeira Mendes e Daniela Carolina El-corab Vasconcelos.


           O advento de novas tecnologias proporciona muitos benefícios na medicina, dentre outros, técnicas cirúrgicas mais precisas e seguras, novos medicamentos e a probabilidade de sobrevivência ao câncer. A partir da década de 1960, constata-se um crescente aumento no número de sobreviventes ao câncer na infância. Estudos, porém, têm revelado uma maior incidência do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) em crianças que conseguiram sobreviver a essa experiência.
           O TEPT caracteriza-se por um estado em que logo após uma experiência aversiva, o indivíduo entra em um estado de desintegração psicológica, no qual pouco sente ou reconhece da ameaça representada pelo trauma. Ou seja, negação e entorpecimento caracterizam sua condição. O TEPT apresenta duas características principais, que são o evento traumático, definido como "exposição a um evento que envolva a ocorrência ou a ameaça consistente de morte ou ferimentos graves para si ou para outros, associada a uma resposta intensa de medo, desamparo, ou horror” e as três dimensões de sintomas que se desenvolvem a partir desse evento, ou seja: a) o evento traumático é persistentemente revivido (ex.: pesadelos, recordações aflitivas, recorrentes e intrusivas); b) esquiva persistente de estímulos associados ao trauma e entorpecimento da responsividade geral; e c) sintomas persistentes de excitabilidade aumentada, incluindo hipervigilância, dificuldades de concentração e irritabilidade.

Depressão e ansiedade podem estar relacionadas ao desenvolvimento de aterosclerose

Por Fellype Borges e Hary Kalapothakis Gissoni

As doenças cardiovasculares constituem em conjunto a principal causa de mortes em países de média e alta renda. Diversos fatores estão relacionados com a origem de tais doenças, correspondendo a uma associação do ambiente e da expressão genômica. A perda da complacência arterial tem papel importante na patogênese das doenças do aparelho cardiovascular, e possivelmente a depressão e os transtornos de ansiedade estão intimamente relacionados nesse aspecto. O artigo “Depression, Anxiety, and Arterial Stiffness”, de Adrie Seldenrijk e colaboradores,buscou reforçar essa relação e ainda explorar a associação entre várias características psiquiátricas e o enrijecimento arterial.


domingo, 2 de junho de 2013

WISC-III: uma ferramenta efetiva na triagem de crianças com TDAH

Por Giovanne Matos e Fábio



O transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é um distúrbio do desenvolvimento muito comum na infância, possuindo forte influência genética, que atinge cerca de 3 a 7 % da população. O TDAH é caracterizado principalmente por menor capacidade de atenção, impulsividade e hiperatividade. Uma disfunção da região órbito-frontal do cérebro pode estar associada a alguns sintomas do transtorno. Essa região está relacionada com a inibição do comportamento, atenção sustentada, autocontrole e com o planejamento do futuro.

O diagnóstico do TDAH é puramente clínico e não há exames complementares que auxiliem no diagnóstico. Segundo alguns autores, o advento de exames que consubstanciem o diagnóstico e diminuam o caráter subjetivo da decisão clínica seria muito bem-vindo. Nesse sentido, Lopes e colaboradores propõem a utilização do WISC-III como uma das ferramentas de triagem para se levantar suspeita de TDAH e direcionar para testes diagnósticos mais específicos, sendo, portanto uma importante ferramenta de avaliação inicial.


sábado, 1 de junho de 2013

A importância do diagnóstico diferencial nos distúrbios psiquiátricos

Por Isabela Martins Melo e Mariana de Oliveira Rezende


Calcificações cerebrais (CC), também conhecidas como Síndrome de Fahr, são lesões formadas por deposição de sais de cálcio e fósforo, usualmente localizadas nos gânglios basais, cerebelo e tálamo. As CC são passíveis de ocorrer em diversas condições clínicas, com maior prevalência naquelas em que há distúrbios da homeostase eletrolítica, como nas endocrinopatias, no período pós-operatório e em algumas síndromes genéticas. O desenvolvimento das CC é lento e pode permanecer assintomático por um longo período. Devido ao acometimento da massa encefálica, foram observadas manifestações neuropsiquiátricas graves concomitantes à Síndrome de Fahr, principalmente quando as CC são secundárias ao hipoparatireoidismo.


O impacto das drogas nos filhos de dependentes químicos

Por Daniel Gonçalves Dias Diniz e Flávya Letícia Teodoro Santos.


Crescer em uma família que possui um dependente químico é desafiador, principalmente quando há contato direto de crianças e adolescentes com essa realidade. Esse desafio pode atuar desestruturando o desenvolvimento saudável ou desenvolvendo competências para lidar com situações estressantes e soluções de problemas. Porém na maioria das vezes os filhos sofrem com uma interação familiar negativa e um empobrecimento na solução de problemas, uma vez que essas famílias são consideradas desorganizadas e disfuncionais.
Filhos de dependentes químicos apresentam risco aumentado para transtornos psiquiátricos, problemas físico-emocionais e dificuldades escolares. Dentre os transtornos psiquiátricos há risco maior para consumo de substâncias psicoativas, álcool, desenvolvimento de depressão, ansiedade e transtorno de conduta e fobia social. Entre os problemas físico-emocionais há predominância de baixa autoestima, dificuldade de relacionamento, ferimentos acidentais, abuso físico e sexual. No que tange as dificuldades escolares, filhos de dependentes químicos apresentam escores menores em testes que medem cognição e habilidades verbais, que se dá devido à falta de estimulação no lar. Estudos sobre violência familiar retrataram ainda que filhos geralmente são testemunhas de violência entre o casal e a família e, por vezes, alvos de abusos físicos e sexuais. 
Uma abordagem preventiva de caráter terapêutico e reabilitador torna-se então, de vital importância para o adequado desenvolvimento de filhos de dependentes químicos.