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sábado, 6 de dezembro de 2014

Será que saí são?

Por Marihana Miranda Batista e Lygia Borges Milhomem.

Uma internação em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) é uma experiência da vida que, sem dúvidas, deixa grandes lembranças. Atualmente, tem-se estudado cada vez mais as alterações psiquiátricas que os eventos relativos à internação em UTI podem causar. Dentre elas, destacam-se: a depressão, os transtornos de ansiedade, as alterações de memórias e o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Estudo recente desenvolvido, por um ano, no Hospital Universitário do Oeste do Paraná, relaciona a prevalência de transtorno de estresse pós-traumático em pacientes submetidos à ventilação mecânica.



Para o reconhecimento e diagnóstico do TEPT, o paciente precisa ter sido exposto a um evento traumático de curta ou longa duração. A partir desse estressor, deve-se apresentar os seguintes sintomas: revivência (recordações aflitivas recorrentes e intrusivas), esquiva/entorpecimento emocional (pensamentos de evitação) e hiperestimulação/hipervigilancia (dificuldade de concentração, insônia). Na forma aguda do TEPT, o início dos sintomas ocorre de um a três meses após o evento desencadeante. Caso a sintomatologia se manifeste após esse período, o quadro é classificado como TEPT crônico. Além disso, estudos anteriores indicam alguns fatores de risco para o TEPT como sexo feminino, idade jovem, longa permanência na UTI, altos níveis de sedação, história psiquiátrica anterior e presença de memórias ilusórias.

Dados da literatura que subsidiaram o estudo indicam uma prevalência de 17 a 30 % para o TEPT em pacientes internados. Entretanto, a pesquisa obteve resultado de apenas 5,1% dos pacientes com o transtorno clinico. Quando os critérios diagnósticos foram atenuados, 14,5% do pacientes apresentaram sintomas de TEPT. Especula-se que os motivos dessa discrepância foi o número reduzido de pacientes entrevistados, os critérios diagnósticos rígidos orientados pelo DSM-IV e a exclusão de indivíduos com diagnóstico prévio de doença mental, com doença terminal e os internados por tentativa de suicídio. Porém, os fatores de risco se adequam aos 5,1% dos pacientes que apresentaram TEPT.

Um estudo posterior, com uma amostra mais significativa, pode confirmar as informações que motivaram a pesquisa. Mas já se pode desenvolver ações que vislumbrem o diagnóstico precoce dos transtornos psiquiátricos causados por internações na UTI. O acompanhamento médico, nos meses subsequentes à alta hospitalar, é uma ação que confere um melhor prognóstico para a reabilitação clínica do pacientre além de colaborar, de forma significativa, para as possíveis estratégias de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento do Transtorno de estresse pós- traumático.

Referência: Costa JB, Marcon SS, Rossi RM. Transtorno de estresse pós-traumático e a presença de recordações referentes à unidade de terapia intensiva. J Bras Psiquiatr 2012; 61(1): 13-19. [Link]

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