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sábado, 6 de dezembro de 2014

Quedas, um problema em ascensão

Por Álvaro Luiz Mendes da Nóbrega e Diogo Lemos Araujo.

Os países em desenvolvimento apresentaram, nas ultimas décadas, uma progressiva diminuição nas taxas de mortalidade e fecundidade. Associados, esses dois fatores promoveram a base demográfica para um envelhecimento dessas populações. O crescimento populacional de idosos, em números absolutos e relativos, é um fenômeno mundial e esta ocorrendo a um nível sem precedentes. Isto é considerado pela demografia como um sinal de desenvolvimento e para a saúde publica uma conquista, pois almejar vida longa é uma aspiração legitima do ser humano. Com o envelhecimento muitas preocupações surgem e uma muito importante são as quedas.

As quedas são um dos principais problemas de saúde para idosos. Aproximadamente 30% da população de idade acima de 65 anos experimenta uma experiência de um ou mais quedas anualmente. As quedas são a terceira principal causa de doenças crônicas que geram deficiência em todo o mundo. Nos EUA, a estimativa anual do custo para lesões relacionadas com quedas excedeu 9 bilhões de dólares para aqueles com idade de 65 anos ou mais em 2004.


Entretanto, sabe-se que durante a fase de envelhecimento, fatores biológicos, doenças e causas externas podem influenciar a forma em que ela se dá. As causas de queda em idosos podem ser variadas e estar associadas. No entanto, muitos trabalhos têm demonstrado que o comprometimento cognitivo e doenças demências aumentam as chances de queda e, principalmente, possuem consequências mais graves que na população geral.

Entre as consequências das quedas temos as fraturas, doenças iatrogênicas, dores, estresse pós-traumático, medo de cair novamente e morte. Além dessas, o Hematoma Subdural Crônico é uma consequência muito importante, pois ao mesmo tempo em que as doenças demências cursam com o aumento da chance de cair, elas geram atrofia cerebral que leva a um tracionamento dos vasos entre região da dura-máter e aracnóide causando uma fragilidade venosa, com isso pequenas quedas, até mesmos as imperceptíveis pela sua magnitude, podem gerar esses hematomas.

O trabalho “Cognitive Function Modifies the Effect of Physiological Function on the Risk of Multiple Falls—A Population-Based Study” mostrou uma pequena relação entre fatores cognitivos e a chance de múltiplas quedas, mostrado na figura abaixo.



O estudo também mostrou que não há associação entre função cognitiva ou fatores fisiológicos no risco de quedas únicas, apesar de haver relação, estatisticamente considerável, no caso das quedas múltiplas. Embora houvesse inúmeros trabalhos que mostrassem o envolvimento de fatores fisiológicos e quedas, e um crescente número com relação aos fatores cognitivos, não havia ainda um estudo que promovesse a correlação entre ambos. Estes estudos mostraram que os efeitos advindos dos fatores fisiológicos no risco de múltiplas quedas são amplificados pela presença de uma função cognitiva empobrecida e mesmo nas quedas únicas. Logo, apesar de os efeitos cognitivos não estarem sozinhos correlacionados positivamente com as quedas, eles mostram ser um importante fator. Além disso, a cognição faz parte no processo de atenção e concentração que são importantes nas múltiplas fases da deambulação. Finalmente, estudos mostram que quedas podem ser pródromo de demências.

A importância disso tem início nos consultórios, onde se deve atentar para a triagem do risco de quedas, e o desenvolvimento de programas de prevenção destes eventos junto com os pacientes, principalmente idosos, que deve levar em conta, entre outros fatores, se ele apresenta deficiências físicas combinadas com problemas cognitivos e síndromes das demências. Com a mudança da estrutura populacional, fica bastante claro que este é um problema de saúde que tende a ficar cada vez mais frequente, sendo necessária a intervenção.

Referência: Martin KL1, Blizzard L, Srikanth VK, Wood A, Thomson R, Sanders LM, Callisaya ML. Cognitive function modifies the effect of physiological function on the risk of multiple falls--a population-based study. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2013 Sep;68(9):1091-7. [Link]

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