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terça-feira, 4 de junho de 2013

Religião e Saúde Mental


Por Gregório Victor Rodrigues.

A religiosidade é algo que está determinantemente implicada na psicopatologia e na terapêutica dos muitos transtornos. Muitos são os pacientes que relatam suas histórias de sofrimento e culpabilização ou fervor e esperança religiosas. O interesse científico sobre a relação entre religião e psiquiatria é crescente, como mostra o crescimento vertiginoso no número de publicações sobre o assunto.

Número de estudos no site de busca científica PubMed para a pesquisa ‘’religion and health’’.

Percebendo, pois, esse fato e, sob a perspectiva científica, querendo investigar alguma relação subjacente da variável religiosidade, alguns cientistas têm se atentado para a questão. É o caso de Harold G. Koening, eminente médico psiquiatra da Duke University Medical Center, e um dos autores do artigo "Longitudinal Relationships of Religion with Posttreatment Depression Severity in Older Psychiatric Patients: Evidence of Direct and Indirect Effects".






No artigo, os autores tratam da associação entre comportamento, prática religiosa e indicadores de bem estar psicológico (satisfação com a vida, felicidade, afeto positivo, autoestima elevada), com vistas à precipitação, gravidade dos sintomas e remissão da depressão maior. Esse transtorno do humor foi clinicamente avaliado a cada três meses em pacientes, entre novembro de 1994 e dezembro de 2008, antes e depois do tratamento, usando  Montgomery-Asberg Depression Rating Scale (MADRS).  A partir dessa avaliação, pretendeu-se estruturar um modelo equacional para analisar os mecanismos dos efeitos diretos e indiretos de fatores religiosos através de vias psicossociais.



Desse modo, como se pode observar no esquema, os múltiplos aspectos desse binômio parecem incluir integração social, regulação social, suporte social e demais fatores independentes, numa complexa interrelação subjetiva. Entretanto, há que se dizer que, embora as correlações sejam sutis, elas igualam ou excedem as encontradas entre bem-estar e outras variáveis de suporte social consideradas importante, como estado conjugal ou renda. Assim, os parâmetros considerados para mensurar a religiosidade foram participação no culto público, participação em serviços filantrópico-religiosos, engajamento na oração privada e significação de vida.
Os passos da via demonstram, pois, que a variável de saúde religião influencia, sobremaneira, o modo como as pessoas lidam com situações de estresse, sofrimento e problemas vitais. A religiosidade pode, assim, proporcionar à pessoa maior aceitação, firmeza e adaptação a situações difíceis de vida, gerando paz, autoconfiança e uma imagem positiva de si mesma. Por outro lado, dependendo do tipo e uso das crenças religiosas, podem também gerar culpa, dúvida, ansiedade e depressão por aumento da autocrítica. Pode, assim, se manifestar positiva ou negativamente como coping, na dependência dos indivíduos terem a religião como algo intrínseco, entendido como um fim transcendente, ou como algo extrínseco, entendido como um meio de projeção pessoal.


Este estudo tem, assim, implicações tanto teóricas quanto metodológicas, a respeito da pesquisa em religião e saúde mental. Teoricamente, ele fornece evidência de uma relação religião-depressão que é parcialmente mediada através de vias psicossociais de redução de estresse e apoio social, mas também parece ter efeitos únicos não explicada por esses fatores. Metodologicamente, ele demonstra um pouco da complexidade da construção da religião, e seu potencial multidirecional em relação a resultados importantes. Daí, então, o interesse que os profissionais de saúde investiguem a influencia da religiosidade e espiritualidade na vida de seus pacientes, em especial nos sob depressão, e saibam lidar corretamente com tais sentimentos e comportamentos.

Referência:

Hayward RD, Owen AD, Koenig HG, Steffens DC, Payne ME. Longitudinal relationships of religion with posttreatment depression severity in older psychiatric patients: evidence of direct and indirect effects. Depress Res Treat. 2012;2012:745970. doi: 10.1155/2012/745970. Epub 2012 Feb 22. [Link]




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